sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Quo Vadis, Sanctus Hubertus?

 



Para onde vai o Santo Huberto? No inicio de um novo ano, esta é pergunta que muitos de nós, praticantes desta modalidade, vão fazendo no seu intimo. Sejamos realistas, a "coisa" não está fácil... 
A caça e, consequentemente o Santo Huberto, já tiveram melhores dias. E quando faço esta afirmação não me refiro a que exista uma menor aficcion por parte de quem a/o exerce, mas antes uma degradação geral no que à actividade da caça diz respeito, fruto de vários factores sociais que a ela/e são alheios.

Na minha "carreira" de santo-hubertista já desempenhei vários papeis. De concorrente, a director federativo, de organizador e passando pela divulgação, vi - e vivi - muitas fases. Posso-vos dizer que antigamente era tudo mais fácil.
Hoje em dia organizar uma prova é muito complicado. Desde logo para se arranjar terrenos. Sem o apoio dos clubes/associações de caçadores, é impossível. Pela minha experiência, aqueles que têm boa vontade, não têm condições e os que têm condições, não estão interessados. Depois há ainda de contar com a oposição dos sócios, que acham que o Santo Huberto é uma coisa que, não lhes interessando, não deve fazer parte das atividades do clube/associação. Alguns, menos esclarecidos, até acham que vamos para lá matar as perdizes que não existem. Enfim, não é fácil mudar mentalidades.

Este ano, fruto dos sucessivos aumentos das rações, dos custos da energia e de alguma especulação à mistura, as perdizes estão a um preço quase proibitivo. Organizar uma prova, onde as contas são feitas a três perdizes por participante, temos de contar, no mínimo, com 40€ só para os "pássaros". No caso de serem incluídas as refeições, as coisas ainda se tornam mais complicadas. Depois ainda faltam os prémios e as deslocações/alojamento e alimentação dos juízes, quando se justifiquem, embora hajam muitos que, por compreenderem a situação (e também pelo amor que têm à modalidade), não cobrem o valor da viagem. 

O Santo Huberto ao nível das federações de caçadores não será mais fácil, pois os custos são iguais. Temos de ser realistas e entender que as federações estão à beira da asfixia económica. É de esperar que tenham outras prioridades, que não o Santo Huberto.
Os apoios das autarquias também são cada vez mais raros e difíceis. A caça, hoje em dia, não é uma actividade que dê votos. Pelo contrário, ainda é motivo de censura dos anti-caça que pululam por todo o país.
Os apoios das marcas e empresas ligadas ao sector também cada vez serão menos, pois as vendas não justificam o investimento.


A FENCAÇA deverá organizar o seu campeonato nacional, mas que é sempre limitado a uma fase regional e à final. Na melhor das hipóteses, para cada um de nós, representa dois fim-de-semana.


A CNCP, a julgar pela letargia dos últimos anos, acho que não fará nada de relevante. Tirando um, ou outro, campeonato regional, acabará por não ter, mais uma vez, consequência numa final nacional. É pena, pois o campeonato da CNCP era um grande motor, a nível de quantidade de provas.


Já há algum tempo que adiantei uma ideia para minimizar despesas. Tendo em conta que o convívio associado a uma prova de Santo Huberto faz parte da sua filosofia, acho que as refeições em grupo são uma parte muito importante. Se a inscrição nas provas não incluíssem as refeições, para além de facilitarem muito a logística, ficariam mais económicas. Em alternativa, cada concorrente levaria a sua própria refeição, partilhando depois com todos os outros. Afinal, seria aquilo que se passa no vulgar jornada de caça com os amigos.



Como sou, por temperamento, uma pessoa optimista, quero acreditar que ainda não estamos prontos para dar o último suspiro. Por isso, apelo às estructuras federativas e associativas, juntamente com os concorrentes, para que façamos todos um esforço para que o Santo Huberto não acabe tal como o conhecemos e com o seu habitual dinamismo. Uma modalidade que já deu tantos títulos mundiais a Portugal - e que pode ser considerada uma escola de caça - não merece ser sujeita a uma morte lenta, provocada pela inércia.  
Há alguns anos atrás, por esta altura, já haviam inúmeras provas marcadas. Já tínhamos um calendário que movimentava muitos aficionados de norte a sul do país. Neste momento não temos sequer uma prova por mês. Havendo poucas provas, cada vez há menos incentivo para se ter e treinar um cão para o Santo Huberto, o que acabará por se refletir no nível das prestações. A nossa vontade/paixão acaba exaurida por tantas adversidades e pode ser o princípio do fim.
Como, para além de optimista, sou teimoso, irei continuar a lutar para que o Santo Huberto ocupe o lugar que merece. Seja participando nas provas, seja na sua divulgação neste blogue, ou, tão simplesmente, manifestando a minha opinião. E esta com um intuito sempre construtivo e nunca contra ninguém. Eu sei quanto "custa" organizar uma prova de Santo Huberto.
Saudações santo-hubertistas.